quinta-feira, 28 de agosto de 2014

CATEQUÉTICA, Aula 2. CONTEÚDO DA CATEQUESE

(Aula ministrada pela Professora Nazir Ramos em 27/08/2014)

PRINCÍPIOS PARA UMA CATEQUESE RENOVADA
30. A renovação atual da Catequese nasceu para responder aos desafios de uma nova situação histórica. Esta exige a formação de uma comunidade cristã missionária que anuncie, na sua autenticidade, o Evangelho e o torne fermento de comunhão e participação na sociedade e de libertação integral do homem.
Para realizar esse objetivo, a Catequese precisa de sólido fundamento. Ele só pode ser procurado na própria Palavra, pela qual Deus revela sua vontade de comunhão plena com os homens.
31. No Novo Testamento, o termo Catequese significa dar uma instrução a respeito da fé. Em sua origem, o termo se liga a um verbo que significa fazer ecoar (Kat-ekhéo). A Catequese, de fato, tem por objetivo último fazer escutar e repercutir a Palavra de Deus.
32. O que é Palavra de Deus? O que significa Revelação? Que relação tem isso com a Catequese? São questões fundamentais, que serão aprofundadas no capítulo I. O capítulo II tratará das exigências da catequese.
2.1.1. A LINGUAGEM DA COMUNICAÇÃO DE DEUS
33. Deus, em sua bondade e sabedoria, quis revelar-se a si mesmo… Deus fala aos homens como a amigos e com eles conversa…. Assim o Concílio Vaticano II (DV* 2) expressa a convicção sobre a qual a Igreja e todo cristão edificam a sua fé. Mas, como Deus fala?
34. A principal forma de comunicação humana é a palavra. Mas, há outras linguagens com que os homens podem comunicar-se. Muitas vezes, um gesto diz mais que muitas palavras. Também gestos e fatos podem constituir uma linguagem.
35. Deus, para se comunicar com os homens, adotou essas duas linguagens que se completam mutuamente: a das palavras e a dos gestos ou acontecimentos (cf. ainda DV 2).
2.1.2. DEUS QUER COMUNICAR-SE A SI MESMO E FORMAR O SEU POVO
36. Além da linguagem, é necessário entender outros aspectos dessa comunicação entre Deus e o homem: 1) o que Deus quer comunicar; 2) a quem se dirige; 3) que obstáculos encontra.
37. 1º) Deus não quis e não quer comunicar aos homens apenas alguma verdade ou alguma lei. Ele quer comunicar a si mesmo, sua presença, seu amor (cf. DV 2 e também DV 6).
38. 2º) Deus não quer fazer isso separando as pessoas, mas unindo-as. Deus quis santificar e salvar os homens não isoladamente, sem nenhuma conexão uns com os outros, mas constituí-los num povo, que o conhecesse e o servisse santamente (cf. LG 9). Mesmo quando Deus se revela através de um profeta, é sempre ao povo que se dirige; e é sempre numa ligação vital com a comunidade que a pessoa é chamada e chega à fé em Deus.
39. 3º) Entre o homem e Deus há uma distância incomensurável, não só pelo desnível natural entre a grandeza infinita de Deus e a fragilidade da condição humana, mas também pelo pecado, que é uma recusa da comunicação com Deus, uma recusa do Amor. Uma vez que o homem não pode chegar sozinho ao pleno conhecimento de Deus, é necessário que o próprio Deus tome a iniciativa de se revelar, de remover as barreiras entre ele e nós, deixando de ser um Deus escondido para nos mostrar o seu rosto, quem ele é.
2.1.3. A "PEDAGOGIA" DE DEUS
40. Compreende-se agora que a Revelação de Deus é mais um processo, uma caminhada, do que um ato realizado imediatamente e de uma vez.
41. Isto acontece, não porque Deus não quer comunicar-se logo e por inteiro. Deus É comunicação, Deus É amor. Deus está sempre perto de nós. Mas somos nós que nos afastamos dele. Somos nós que precisamos desse processo lento e permanente da Revelação, porque seres históricos, em construção.
42. Em outras palavras, a humanidade não está preparada para acolher a Deus plenamente. Muitos obstáculos a separam dele. Muitos pecados a desviaram.
43. Deus, então, ele mesmo procura guiar a humanidade de volta. Procura orientá-la, aproximá-la de si. Torna-se para seu povo como um pai ou uma mãe que ensina à criança os caminhos da vida. Torna-se um mestre ou educador, que ensina aos alunos caminhos mais adiantados em busca da verdade e da felicidade. Como um pai educa seu filho, assim Deus educa seu povo (Dt 8,5).
44. Por isso, pode-se falar em pedagogia de Deus (cf. DV 15), para indicar a forma com que Deus se revelou na História da humanidade, gradativamente, por etapas.
2.1.4. A HISTÓRIA DA REVELAÇÃO
45. A Revelação de Deus foi conservada, de início, por uma tradição oral contada de pai para filho (cf. Dt 4,10; 11,19), de boca em boca. Depois foi posta por escrito na Bíblia.
46. A Bíblia usa raramente a palavra Revelação. Tampouco faz teorias sobre ela. Conta, sobretudo, fatos. Alguns desses fatos podem ajudar-nos a compreender como se dá a Revelação. São principalmente fatos que apresentam o encontro de Deus com o seu povo ou com um profeta.
47. Tomemos um exemplo: a revelação de Deus a Moisés (Ex 3,1-15). Deus atrai Moisés com um sinal: a sarça ardente. E a Moisés comunica duas coisas: o seu Nome e a vontade de libertar os filhos de Israel. Reparemos bem: De um lado, Deus se apresenta como Deus dos pais, dos antepassados de Moisés, o Deus que Moisés já conhece e adora. Até aí, nada de novo. De outro lado, Deus revela algo novo que Moisés e seu povo não conheciam: o nome Javé (que significa Aquele que sou ou Aquele que estou convosco) e a vontade de libertá-los.
48. Nos encontros de Deus com o seu povo e seus profetas, é possível reconhecer essa estrutura da Revelação: Deus fala partindo de algo que os homens já conhecem, que pertence à experiência deles, e procura levá-los a descobrir e compreender algo novo do seu ser, do seu amor, da sua vontade. Ou ainda: Deus ilumina o seu povo e seus profetas para que compreendam o sentido da História que estão vivendo, dos acontecimentos que Deus quis ou permitiu.
49. Muitas vezes, o acontecimento é tão importante que ilumina com luz nova todo o passado e leva a uma nova e mais profunda compreensão do plano de Deus. É o que aconteceu com a experiência da aliança. À luz dela, foi interpretada toda a história da salvação: a criação (cf. Is 40,25-28; 44,24; etc.), Noé (Gn 6,19; 9,9), Abraão (Gn 17,2), Moisés (Ex 19,5; 24,7), Davi (2Sm 23,5). A fé de Israel se expressa através da evocação da História (Dt 6,20-23; 26,5-9).
A luz definitiva sobre a história da Revelação vem de Jesus, que revela enfim toda a amplitude do amor de Deus.
2.1.5. A PLENITUDE DA REVELAÇÃO: JESUS CRISTO
50. A expressão mais alta, absolutamente única e definitiva da comunicação de Deus à humanidade, é Jesus, o Cristo (cf. DV 4). Nele, Deus não se limita a manifestar algo de seu Amor. Deus se dá a si mesmo. Jesus é a encarnação, na natureza humana, do Verbo. É a própria Palavra de Deus feita carne (Jo 1,14).
51. Jesus Cristo se torna assim, para os homens de todos os tempos, caminho, verdade e vida (Jo 14,6). Só por ele se vai ao Pai. Ele é a plenitude da Revelação. Por isso, depois de Jesus, já não esperamos novas revelações. É importante, porém, observar como Jesus revela o Pai. De novo encontramos a presença de acontecimentos e palavras estritamente uni dos. Sua encarnação, sua vida terrena, especialmente sua morte e ressurreição são fatos em que a fé reconhece Deus que se revela e se comunica.
O sentido desses fatos se torna acessível a nós pelas próprias palavras de Jesus, que compreendemos com a ajuda do Espírito Santo e da Igreja.
52.     Para a Catequese, é ainda importante reparar que Jesus, na sua pedagogia, para levar seus ouvintes à plenitude da fé, não despreza a história anterior da Revelação, o Antigo Testamento, e também recorre às situações de vida e à experiência das pessoas, educando-as para que reconheçam nelas os apelos de Deus.
2.1.6. CRISTO SE COMUNICA PELO ESPÍRITO SANTO
53. Jesus é a plenitude da Revelação de Deus. Neste sentido, Deus não tem mais nada a revelar de si mesmo (cf. DV 4). Tudo o que é do Pai foi comunicado a Jesus, e Jesus o comunicou a seus discípulos e após tolos (Jo 15,15; cf. também DV 7). Revelou os mistérios  quer dizer, a intimidade de Deus, o que até então estava escondido  não aos sábios e entendidos, mas aos simples (Mt 11,25).
54. Mas Jesus, exatamente porque nele habita a plenitude de Deus e só nele se encontra a salvação, deve tornar-se de alguma forma contemporâneo e companheiro de todos os homens. É esta a tarefa que se realiza através do Espírito de Jesus, o Espírito Santo que atua na Igreja. Neste sentido, pode-se dizer, com o Concílio Vaticano II, que Deus continua mantendo permanente diálogo com a comunidade cristã (cf. DV 8c) e que o Espírito Santo faz ressoar na Igreja e no mundo a voz viva do Evangelho, conduzindo os fiéis para a plenitude da verdade (Jo 16,13).
55. Como o Novo Testamento afirma repetidas vezes, a experiência do Espírito na comunidade cristã é inseparável da memória de Jesus (cf. Jo 14,26; 15,26; 16,13-14; At 2,17-36; 1Cor 2,1-16; 12,3; 2Cor 3,3; etc.). Mas a ação do Espírito não está somente voltada para o passado. Ela quer conduzir a vida e fazer crescer a fé do Povo de Deus (DV 8a). Ela se volta também para o futuro, para a plenitude da verdade, fazendo progredir a compreensão tanto das realidades como das palavras confiadas à Igreja.
56. O  Espírito  não  age  só,  livre  e  misteriosamente, como o  vento  da  noite,  que  não  se  sabe  de  onde vem e para onde vai (Jo 3,8). Ele, para manter inalterado e vivo o Evangelho, suscitou e conserva na Igreja a Tradição, a Escritura e o Magistério (cf. DV 7-10).
BIBLIOGRAFIA: Catequese renovada: orientações e conteúdo – Parte II, Documento 26 da CNBB, 1983


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* DV = Dei Verbum, constituição dogmática do Concílio Vaticano II, sobre a revelação divina.

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