quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Catequética, Aula 7 - A ARTE DE CONDUZIR ORAÇÕES: A IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO

(aula ministrada por JOSÉ ROSILDO SANTOS, a partir de material elaborado por NAZIR RAMOS)

A oração é um dos elementos mais importantes no encontro catequético. O catequista deve sempre ter em mente que é preciso ensinar os catequizandos a rezar. Uma catequese que não desperte na turma uma atitude de oração acabará sendo uma mera troca de informações e não criará uma espiritualidade.
Rezar é conversar com Deus. Quando uma pessoa tem dificuldade de conversar com Ele, isso pode significar que Deus, para essa pessoa, ainda é um conceito distante, fora da realidade. Ao contrário, se a pessoa consegue se expressar livremente, abrindo-se no diálogo com Deus, isso pode significar que ela interiorizou a presença Dele em sua vida. Deus é, para essa pessoa, alguém próximo com quem se pode dialogar.
É costume dizer que a melhor maneira de avaliar a catequese é olhar a vida de oração dos catequizandos. Uma catequese superficial dificilmente resultaria numa vida de oração profunda.
Portanto, o catequista, além de cuidar da transmissão dos conteúdos da fé, precisará incentivar a vida de oração, ensinando a turma a rezar. Dizemos "ensinar", porque oração é algo que se aprende, com formas e métodos variados. O catequista ensinará a turma a rezar, conduzindo momentos de oração. Ele próprio precisará rezar com profundidade. Seu jeito de conversar com Deus será o principal estímulo para a turma. Além disso, o catequista poderá – e deverá – usar várias metodologias para conduzir orações.
Métodos e formas são os diversos jeitos de rezar. É importante variar os momentos de oração para enriquecê-los e evitar a rotina. Na catequese há inúmeras formas possíveis. Neste texto, veremos alguns desses métodos, assim como dicas de como trabalhar com eles para tornar o momento de oração mais rico e criativo.
ORAÇÕES DECORADAS
São aquelas orações tradicionais que a gente deve saber de cor. Todo católico deve saber rezar o Pai-Nosso, a Ave- Maria e muitas outras orações. Essas orações são importantes porque vêm de longa tradição na Igreja, são rezadas em comum nas celebrações, possuem um conteúdo rico e profundo. Entretanto, não devemos nos limitar a essas formas de oração. O grande perigo,  na catequese, é só rezar Pai-Nosso, Ave-Maria e Vinde Espírito Santo e não desenvolver outras formas mais expressivas de conversar com Deus. Outro grande perigo é essas orações se tornarem preces mecânicas, repetidas com a memória, não com o coração, como se fossem palavras soltas e sem sentido. Por causa disso, três atitudes são importantes quando o catequista lida com orações decoradas:
a) Alternar orações decoradas e espontâneas, variando a forma de rezar;
b) Ajudar a turma a compreender e ter sempre em mente o sentido dessas orações;
c) Lembrar que a linguagem dessas orações nem sempre é acessível à turma, o que faz supor a necessidade de estudar a oração para depois rezá-la.
ORAÇÕES REPETIDAS
   São orações espontâneas ou escritas que o catequista reza, frase por frase, para que a turma vá repetindo em conjunto. É uma forma válida, porque leva a pessoa a dizer e interiorizar coisas importantes dentro do tema do encontro, além de ser uma forma intermediária entre a oração decorada e a totalmente espontânea. A oração repetida deveria ser usada mais com grupos que ainda têm certa dificuldade de rezar de modo espontâneo. Podem ser adultos, jovens ou crianças. Esse tipo de oração tem certo caráter pedagógico: enquanto vai repetindo a prece formulada pelo catequista, a pessoa aprende a formular a sua própria prece. Até em missas ou celebrações com grande número de pessoas se costuma usar esse método. Vale lembrar, no entanto, algumas observações a respeito:
a) A oração deve ser feita na linguagem da turma.
b) Quem dirige a oração deverá rezar pausadamente, falando as preces com clareza;
c) Deve-se esperar que a turma repita a frase anterior para falar nova frase; do contrário, a turma não entenderia o começo da frase seguinte;
d) As frases devem ser curtas, senão a turma já as terá esquecido na hora de responder;
e) as frases devem ter sentido completo, tanto quanto possível. Se o dirigente parte de uma frase grande em vários pedaços, ao final ela poderá ter perdido o sentido;
f) Antes de começar a rezar, é preciso concentrar a turma para que a repetição não seja algo mecânico. Nesse sentido, o gesto ajuda muito.
MEDITAÇÃO DIRIGIDA
   Consiste em uma oração silenciosa, orientada pelo catequista. O catequista coloca todos em silêncio e vai dirigindo palavras que ajudarão a refletir e a meditar. O segredo dessa forma está no talento do catequista em manter o grupo em clima de meditação e em dizer palavras que possam interiorizar e transformar em sua própria oração. O silêncio ajuda na concentração. As palavras do catequista devem evitar a dispersão. De fato, uma oração totalmente silenciosa, se o grupo não for muito maduro, poderia logo gerar mais distração do que diálogo com Deus. Vale observar o seguinte:
a) É aconselhável, antes de meditar, combinar um gesto de recolhimento: fechar os olhos, abaixar a cabeça, sentar-se, colocar a mão no coração, etc.
b) Só é possível rezar assim se todos realmente fizerem silêncio. Se houver ruído é melhor nem tentar meditar. Nesse caso, a oração repetida funcionará muito melhor.
c) O catequista precisa conduzir a oração no mínimos detalhes, como se estivesse "hipnotizando" o pessoal. Deve dizer o que fazer, o que pensar, o que sentir. Isso ajudará a criar um clima favorável.
d) Para ajudar na concentração pode-se cantar suavemente uma música que ajude a rezar. Ou usar um fundo musical bem suave.
e) Na meditação dirigida, podemos distinguir dois momentos: primeiro o catequista vai concentrar a turma, colocando-a em clima de oração. É o que falamos no item anterior. Depois que todos estiverem concentrados, o catequista vai induzi-los à oração, por meio de palavras que possam repetir interiormente. Nesse momento, a tendência será sempre repetir as palavras do catequista. Por isso, será sempre bom usar a primeira pessoa e não a terceira. Exemplo: "Diga a Jesus: - Jesus, eu preciso de seu amor, eu quero ser amado pelo Senhor." ( Primeira pessoa); "Diga a Jesus que você precisa de seu amor, que você quer ser amado por Ele." (Terceira pessoa)
f) Esse oração precisa de uma conclusão. Para concluir, pode-se cantar uma música, ou fazer uma oração a uma só voz, ou uma oração repetida etc.
g) Lembramos ainda que nenhuma forma de oração deve ser prolongada demais. Isso cansaria a turma, gerando inquietação. A arte de conduzir orações supõe que o catequista perceba o momento certo de encerrar a oração, antes que o grupo dê sinais de inquietação.
ORAÇÃO ESCRITA
   Consiste em pedir que se escreva a oração que se deseja fazer. É uma forma mais trabalhada. A vantagem é que permite organizar melhor os pensamentos. É aconselhada quando se faz necessária uma oração que, além da espontânea e pessoal, seja também pensada e refletida. Exemplo:
a) Escrever uma avaliação de vida, dizendo para Deus quais são as maiores dificuldades que se tem enfrentado ultimamente.
b) Escrever uma carta para Deus, contando-lhe como vai a família.
c) Escrever um compromisso, colocando por escrito o propósito de seguir Jesus com fidelidade.
A oração escrita pode se tornar um momento profundo de desabafo com Deus, uma ocasião de se “soltar” com total sinceridade. O papel aceita tudo, calado. Depois de escrever a oração, é preciso ver o que fazer com o papel. Se forem escritas coisas pessoais e íntimas, é melhor queimar os papéis numa vasilha apropriada, enquanto se canta alguma canção. Se o conteúdo escrito pode ser lido, sem revelar coisas pessoais, cada um pode ler para os demais sua oração, ou pode-se partilhar a oração em duplas, ou ainda, expor os textos num cartaz etc. Antes, porém, de escrever, é preciso combinar o que se fará com os textos para não acontecer que alguém coloque num papel coisas que não deseja ver publicadas diante de todos. O catequista deverá ter essa sensibilidade.
ORAÇÃO A PARTIR DE SÍMBOLOS
    Também podem-se usar símbolos para motivar a oração: faixas, cartazes, objetos etc. Isso permite variar bastante, contanto que os símbolos sejam adaptados à realidade do grupo e este tenha maturidade para compreender a mensagem dos símbolos. Exemplos:
a) Escrever em   sulfite, ou outro material que achar pertinente,  várias fraquezas humanas e colocá-las sobre o altar ou  a mesa. Pedir que cada pessoa vá à frente, erga um cartaz e faça uma prece pedindo a Deus força para superar aquela fraqueza. Em seguida, rasgue-a e a coloque numa vasilha. Cantar algum refrão ou um mantra.  No final, queimar os papéis rasgados.
b) Colocar vários símbolos (pão, vinho, cruz, água, veste branca, óleo, vela, flores, espinhos, pedra) sobre o altar ou no chão. Estando todos em volta, convidar a louvar pelo que os símbolos representam.
c) Convidar cada um a escrever uma prece num coração e depois ofertar esse coração a Deus, colocando-o sobre o altar; enquanto se canta uma música apropriada.
    A oração, a partir de símbolos, acaba se tornando um verdadeiro ritual, uma autêntica celebração. Por isso, é importante. Depende, é claro, de um tempo maior e da arte do catequista de conduzir todos  à  compreensão dos símbolos. O segredo é usar símbolos  que expressem uma mensagem clara e sejam de fácil compreensão de todos.
SUGESTÃO DE ORAÇÃO PARA FAZER COM ADULTOS
OBJETIVO: Descobrir o valor da oração e a necessidade de orar
MATERIAL: Folhas de papel e lápis para cada participante; Bíblias.
Divida a turma em grupos. Distribua as leituras e perguntas por grupos diferentes. Dê um tempo para cada grupo ler, conversar sobre cada parte e responder de preferência escrevendo um texto. Depois junte todos, ouça as respostas e faça comentários.
Como e por que devemos orar? Mateus 6, 5 -13.
Como e por que devemos orar? Marcos 11, 22 – 25.
Como é a pessoa que costuma orar? Romanos 12, 10 – 21.
Para que serve a oração e a Palavra de Deus? Efésios 6, 10 – 20.
Respostas para ajudar na reflexão:
1 - Ao orar a pessoa assume a existência de um Deus amoroso que está atento para sua realidade e é Onipresente. A constância desta ação, inculca na mente Sua presença, levando a pessoa a sentir-se acompanhada. Na oração descobrimos nossa dependência do Criador, e a necessidade de Sua orientação, proteção, conforto. A prática da oração impulsiona a pessoa à disciplina da dependência; o que redundará em conhecimento, obediência, e bênçãos. A oração também possui uma função terapêutica, pois, leva a pessoa a abrir-se; a colocar para fora aquilo que incomoda, que amedronta; e que, se guardado, poderia facilmente redundar em distúrbios emocionais, ou mesmo depressão. Ao se colocar diante do Deus Amor; criador e sustentador do universo, inclusive de sua própria vida, a pessoa liberta-se da ansiedade de seu próprio controle.
Leia e medite com todos Filipenses 4, 4 – 9. 
A oração é importantíssima porque a partir dela o Espírito do Senhor trabalha em nosso ser, guiando e confortando-nos para uma vida melhor. 
Para refletir e rezar:
Mt 6, 7-8; Mc 1-35; Jo 16-20
Lc 5, 16; 6, 12-13; 10,21; 22,40-42; 23,34
Partilhemos nossas descobertas e terminemos com a oração que está em Mt 6, 9-13.


*O primeiro tema da semana de formação do Catequese Kids, é sobre a arte de se conduzir orações. Ele foi retirado do livro "Elementos de Didática na Catequese" da autora Solange Maria do Carmo, editora Paulus e publicado em http://catequesekids.blogspot.com.br/search/label/Ora%C3%A7%C3%B5es

Anexo: A PIPOCA (Rubem Alves)

Adaptei esse texto de Rubem Alves, que pode ser usado em uma dinâmica ou celebração usando como símbolo pipoca.
Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu. A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas ideias começaram a estourar como pipoca.
Percebi, então,a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível. A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela.
Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem. Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida  e alegria  devem existir juntas.
A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido. Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a ideia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado. Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer.
O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças.
 É muito divertido ver o estouro das pipocas! E a transformação do milho duro em pipoca macia é um  símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. 
Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
 Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante. 
Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca poderá representar a morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.

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