(aula ministrada pela Professora NAZIR RAMOS em 24/09/2014)
“Nenhuma metodologia dispensa a
pessoa do catequista no processo da catequese. A alma de todo método está no
carisma do catequista, na sua sólida espiritualidade, em seu transparente
testemunho de vida, no seu amor aos catequizandos, na sua competência quanto
ao conteúdo, ao método e à linguagem. O
catequista é um mediador que facilita a comunicação entre os catequizandos e o mistério de Deus,
das pessoas entre si e com a comunidade”
(DNC 172)
1. IMPORTÂNCIA DA METODOLOGIA NA AÇÃO CATEQUÉTICA
Uma das preocupações mais
intrigantes para os catequistas é com relação à Metodologia. Cada vez mais nos
defrontamos com a necessidade de melhorarmos e crescermos na missão
catequética. Ao preparar um encontro catequético sempre vêm à mente aquelas
perguntas: “Como vou preparar o meu encontro?”,
“De que maneira vou trabalhar com os catequizandos?”, “Qual o caminho a percorrer?”.
A palavra método é uma palavra
de origem grega (méthodos, do grego – odós, caminho), que quer dizer
caminho, estrada que ajuda a chegar aonde que se quer, isto é, alcançar a meta
proposta.
O método catequético supõe uma
ação de planejamento, o qual requer:
a) “domínio” do conteúdo a ser
transmitido (O QUÊ?)
b) conhecimento da realidade e
da vida dos catequizandos (QUEM?)
c) objetivos claros e concretos
(PARA QUÊ?)
d) discernimento para escolher
o melhor caminho, o método mais apropriado (COMO?)
e) capacidade para agendar as
datas e administrar bem o tempo (QUANDO?)
f) clareza quanto à razão da
sua missão e do caminho a ser percorrido (POR QUÊ?)
A catequese pode ter vários
métodos. Assim, como para se chegar a um endereço determinado, pode-se fazer
uma longa caminhada, passar por desvios e pontes desnecessários ou encontrar a
maneira mais rápida para chegar à meta proposta.
Na educação da fé pode
acontecer o mesmo. Quando não temos objetivos claros e nem sabemos como
realizar o que desejamos, podemos nos perder no caminho sem chegar a alcançar a
meta proposta. Na catequese, precisamos percorrer os caminhos mais adequados
para vivenciar um processo eficaz: “Para isto, é preciso não esquecer que além
dos objetivos, precisamos ter em mente a realidade em que trabalhamos (rural,
periferia, urbana), os destinatários com suas experiências, cultura, idade, os
conteúdos a ser refletidos, vivenciados, o uso de uma linguagem adequada, e a
comunidade que é fonte, lugar e meta da catequese”
A Conferência de Aparecida fez, sobre a
caminhada da Igreja Latino-Americana, uma séria reflexão sobre os métodos
utilizados pela Igreja na Catequese e na Ação Evangelizadora.
Depois de elencar as conquistas
e os aspectos positivos (a animação bíblica da pastoral, renovação litúrgica,
empenho dos ministros ordenados e dos leigos e religiosos, a ação missionária e
a renovação pastoral da Igreja), a conferência apresentou algumas sombras e
retrocessos (reducionismos, enfraquecimento da vida cristã, falta de
acompanhamento aos leigos, florescimento de espiritualidade de cunho intimista,
linguagem distante da Igreja, escassez de vocações, católicos afastados, trânsito
religioso, pluralismo religioso, afastamento e falta de coragem e perseverança
na fé). Dentre os quais, elencamos duas:
• “Percebemos uma evangelização
com pouco ardor e sem novos métodos e expressões, uma ênfase no ritualismo sem
o conveniente caminho de formação, descuidando outras tarefas pastorais” (DAp
100 c).
• “Na evangelização, na catequese
e, em geral, na pastoral persistem também linguagens pouco significativas para
a cultura atual e em particular para os jovens. (...) As mudanças culturais dificultam
a transmissão da Fé por parte da família e da sociedade” (DAp 100 d).
Tal constatação nos convida a re-pensar
nossa ação catequética, procurando novos caminhos e novos meios para transmitir
a mensagem de fé. Sobre a importância do método, convém refletir alguns
aspectos:
a) Método Catequético supõe um
caminho a ser trilhado, a ser construído. Como diz o provérbio: “não há caminho
pronto, caminho se faz ao caminhar”.
b) O catequista faz parte do
Método Catequético: seu jeito de ser, olhar, escutar, falar, sorrir,
questionar, trabalhar, pontuar e agir;
c) O Método supõe sempre uma ação
comunitária: ele passa pela partilha em grupo e aproveita os espaços onde há
reflexão, planejamento, ação e avaliação;
d) Método é uma experiência de
convivência e de amizade. O método transforma as pessoas, de desconhecidas a
bons amigos. Aqui não há espaço para isolamento, inimizades ou monólogos. Jesus
fez do seu seguimento um método bastante eficaz para os seus discípulos. Ele
mesmo se colocou como caminho (Jo 14, 6);
e) Método é procedimento: acolher,
ver, iluminar, agir, celebrar e avaliar;
f) Método é interação: Fé, Vida e
Comunidade;
g) Método é aprendizagem
(aprender-fazendo, aprender-ensinando) e oportunidade para aprimorar a escuta
(ouvir-rezando; ouvir-sentindo e ouvir-amando).
h) Método é comunicação através da
linguagem verbal e não verbal (gestos e símbolos);
i) Método é ação criativa e
dinâmica. É caminho de construção, instrução e desconstrução.
2.
O ENCONTRO CATEQUÉTICO
“A pedagogia catequética tem
uma originalidade específica, pois seu objetivo é ajudar as pessoas no caminho
rumo à maturidade na fé, no amor e na esperança”. (DNC 146)
O encontro de catequese não é
uma aula, e não há aluno e professor, mas catequizando e catequista. O encontro
catequético é um encontro de fé, espaço privilegiado de educação e
amadurecimento da fé.
O encontro é uma feliz
oportunidade para aprender, ensinar, sentir, criar, descobrir e experenciar. A
catequese é exigente! Não dá para ficar com aquela ideia de que basta ter boa
vontade para fazê-la. Todos devem estar preparados para a catequese: o
catequizando, o qual deve estar motivado para participar e o catequista, o qual
deve ter preparo e testemunho de fé. A comunidade também tem um papel
importante para a catequese, como escola de comunhão e acolhida e ambiente
propício para a iniciação e o testemunho da fé.
A metodologia da Catequese é a
metodologia da Igreja. Ela contempla alguns passos importantes: VER – ILUMINAR
– AGIR – CELEBRAR - AVALIAR.
Dentro do encontro catequético,
estes momentos podem ser contemplados.
Mais do que nunca, o século XXI exige de nós
catequistas uma nova maneira de evangelizar e catequizar as crianças, jovens e
adultos. Sonhamos com uma catequese que parta da realidade, que seja iluminada
pala Palavra de Deus. Sonhamos com uma catequese que valoriza os laços de
amizade e os sentimentos. Sonhamos com uma catequese comprometida com os
valores do Reino de Deus. Sonhamos com uma catequese que conduza nossos
catequizandos a serem autênticos e fiéis seguidores de nosso Mestre Jesus.
Para que isso aconteça, não existem receitas
prontas. Existem caminhos que precisam ser trilhados. Cabe a cada catequista,
de acordo com sua realidade, descobrir qual o melhor método (caminho) a ser
seguido para que a catequese alcance seu objetivo de construir comunidades.
Eis
algumas dicas para melhorar a qualidade do encontro catequético:
1. Conheça o seu grupo de
catequizandos, chamando-os pelo nome. Interesse-se por conhecer cada família e
a realidade de cada um.
2. Busque apoio em alguém para
resolver as dificuldades surgidas; seu coordenador deve estar a par de tudo.
3. Procure variar a disposição
dos lugares na hora do encontro. A disposição em semicírculo é sempre muito
boa: todos se olham de frente.
4. Evite as improvisações.
Prepara cada encontro com antecedência. Tenha seu caderno de preparação e
avaliação sempre em dia e em ordem.
5. Evite a rotina. Aproveite
para isso as celebrações e revisões. Quando sentir que o grupo está
desinteressando, prepare um encontro-surpresa: passeio, confraternização,
jogo...
6. Procure conhecer o conjunto
da programação e do material que pode ser utilizado na catequese. Isso lhe dará
segurança.
7. Use com critério e
criatividade o seu material à sua disposição. Saiba inculturar de acordo com a
realidade de cada um.
8. Procure valorizar e
acompanhar os catequizandos, dando-lhes algumas responsabilidades e
oportunidades para participar ativamente do encontro catequético.
9. Esteja sempre em contato com
a coordenação. Ela ajudará você a resolver suas dúvidas e você sentirá que não
está sozinho nessa obra. Não desanime! O trabalho que vale a pena, sempre exige
compromisso e sacrifício.
10. Não se interesse pelo
catequizando somente no momento do encontro. Ele precisa ter a certeza de que
você está pensando nele, querendo o seu bem. Procure saber do que ele gosta,
quais seus problemas.
11. Participe intensamente de
sua comunidade. Carregue no coração a alegria de pertencer a uma comunidade
cristã, mesmo com suas dificuldades. Lembre-se de que você é um legítimo
representante e servidor da Igreja, no ministério do anúncio da Palavra.
12. Seja uma pessoa de oração.
Reze. A Palavra de Deus deve ser para você um livro de meditação diária. Não
uma oração alienada da realidade, mas uma oração comprometida com a vida e a
realidade.
13. Seja frequente nos
encontros de formação de catequese, correspondendo ao chamado de Deus com
responsabilidade. Seja presente e atuante na vida da sua comunidade. Seu
testemunho de vida é a forma mais eloquente para viver o ministério.
3.
COMO PREPARAR UM ENCONTRO CATEQUÉTICO:
Visto os meios e recursos
disponíveis, o catequista deve preparar antecipadamente o encontro. E como
preparar um encontro de Catequese? Eis alguns passos:
1. Olhar a realidade: quem são? Crianças? Adolescentes e Jovens?
Adultos? Onde vivem?
2. Traçar o objetivo do encontro: o que se pretende alcançar com esse
encontro? Qual sua finalidade? Tente formular um objetivo bastante simples e
bem concreto. Algo bem “pé no chão”.
3. Escolher o conteúdo: qual a mensagem a ser anunciada? Que tema
trata o encontro? Qual o texto da Palavra de Deus será proclamado e refletido
no encontro? Quais as perguntas que poderão ser feitas a fim de ajudar a
entender o texto?
4. Selecionar o método apropriado: como chegar lá? Quais os meios e
recursos serão utilizados para transmitir a mensagem?
5. Executar o que foi planejado: colocar em prática tudo aquilo que
foi preparado com antecedência.
6. Avaliar o encontro: o objetivo do encontro foi alcançado? Se não
foi, por quê? Houve imprevistos? O que não ficou claro e precisa ser
esclarecido? Houve uma boa participação?
4.
REGRAS DE OURO PARA O BOM ÊXITO DE UM ENCONTRO:
a) Divida bem o tempo do
encontro, de modo que a metade seja ocupada pelos catequizandos, incentivando
sua participação e entrosamento nos temas abordados.
b) Evite atrasos. Saiba chegar
com antecedência para os encontros. Assim você terá oportunidade para preparar
o ambiente e acolher cada catequizando que chega.
c) Inicie sempre os encontros
com uma oração. Pode-se invocar o Espírito Santo, fazer uma oração espontânea.
Faça uma pequena recordação da vida, para colocar na oração intenções, nomes de
pessoas ou fatos ocorridos na semana e que merecem nossa atenção.
d) Procure primeiro OUVIR.
Retenha seu saber para despertar nos outros o prazer pela busca, pela partilha
e pela construção de novas ideias.
e) Valorize as colaborações dos
catequizandos, mesmo que suas ideias não estejam muito claras. Saiba dar o
devido valor à partilha e ao trabalho do grupo.
f) Tente inspirar confiança,
respeito e alegria através da sua presença. Não tente inibir o catequizando com
o seu olhar e outras posturas.
g) Valorize a diversidade e os
dons de cada um. Você não é poeta? Algum catequizando talvez seja. Você não
canta? Algum talvez cante.
h) Quando for necessário
dialogar, não queira que a sua ideia ou sua cabeça prevaleça. Aponte caminhos,
mas nunca feche assuntos e questões.
i) O catequista também ensina,
em nome da Igreja, por isso, apresenta a verdade de fé, não segundo suas
intuições, mas de acordo com o que a Igreja prega e ensina.
j) Ao escolher uma criatividade
ou dinâmica para os encontros procure variar, levando em conta os cincos
sentidos: ouvir (audição); ver (visão); degustar (paladar); cheirar (olfato); trabalhar
as mãos (tato). É bom variar pra não cansar explorando somente um sentido!
k) Saiba criar dinâmicas de
acordo com as idades dos catequizandos: desenhos, gestos, cantos, gincanas,
jogral, encenação, trabalhos em grupos, gravuras, recortes de jornal, slides,
fantoches, histórias em quadrinhos, audiovisuais, filmes, poemas, cartazes,
pintura, etc...
l) Saiba colocar um toque de
humor em cada encontro. O encontro de catequese não pode ser uma reunião séria,
como se fosse uma reunião de executivos. Tem que haver descontração, deve saber
equilibrar, oferecendo possibilidades de desenvolver o lúdico.
m) Se os catequizandos falam
alto demais, fale mais baixo. Você adquire o silêncio, sem ter que perder a
paciência, ou pior sem ter que berrar achando que vai apaziguar a situação.
n) Não humilhe, não despreze e
nem deixe ninguém de lado. Saiba controlar aqueles que facilmente participam
para não intimidar mais ainda os que ficam muito quietos e sem iniciativa.
o) Cada um é um. Por isso,
evite fazer comparações entre os catequizandos.
p) Quando der alguma atividade
em grupo, procure perceber se está havendo a participação de todos, ou se tem
algum que não se envolve. Procure ter essa sensibilidade para não deixar essa
situação atrapalhar a participação e a aprendizagem de todos.
q) Saiba ser presença junto a
cada catequizando, ao longo do encontro. Manter uma comunicação com cada um é a
melhor forma de obter disciplina. Você poderá se comunicar efusivamente com o
olhar, um gesto, um sorriso e uma palavra, sem soar como se estivesse vigiando
ou desconfiando da capacidade do catequizando.
r) Apresente os objetivos do
encontro de forma atraente e desejável. Nunca falar claramente, deixe sempre um
enigma a desvendar no final.
s) Terminar o encontro com uma
oração e sempre que puder ajudar o grupo a assumir um propósito para ser
realizado naquela semana e que esteja em sintonia com o tema que foi refletido.
5.
A LINGUAGEM NA CATEQUESE
Vivemos na sociedade da
informação e da tecnologia, marcada pelos impactos da globalização. E a
catequese se coloca diante desse mundo plural com várias vozes e vários
estereótipos. Junto aos areópagos da pós-modernidade, a catequese tem a missão
de tornar não só clara e audível, mas também crível, a Palavra de Deus,
precioso tesouro anunciado ao longo dos séculos pelos profetas, mártires,
discípulos e discípulas que ardorosamente deram seu testemunho com coragem e
alegria.
Não é possível pensar que hoje
todos tenham de ter uma única linguagem, um mesmo jeito de falar e de anunciar
a mensagem cristã. Contudo é possível que todos procurem entender a essência da
mensagem e a ela possam aderir, transmitindo ao mundo pela fidelidade, a fé que
edifica o Reino de Deus. Não há como haver uma única linguagem, mas é possível
que todos estejam sintonizados na mesma frequência que oriunda do Evangelho.
O Diretório Nacional de Catequese coloca como
desafio: “formar catequistas como comunicadores de experiências de fé,
comprometidos com o Senhor e sua Igreja, com uma linguagem inculturada que seja
fiel à mensagem do Evangelho e compreensível, mobilizadora e relevante para as
pessoas do mundo de hoje, na realidade pós-moderna, urbana e plural” (DNC 14b).
Enfim, falar de linguagem é
falar de inculturação e esta prática torna-se cada vez mais irrenunciável para
a ação catequética: “a catequese tem a missão permanente de inculturar-se,
buscando uma linguagem capaz de comunicar a Palavra de Deus e a profissão de fé
(Credo) da Igreja, conforme a realidade de cada pessoa” (DNC 149).
Documentos citados
DNC Diretório Nacional de Catequese, documento 84 da CNBB, 2005
DAp Documento de Aparecida, CELAM 2006
Do site: http://catequistabr.dominiotemporario.com/doc/CBV-CATEQUISTA-FORMACAO-DIO-PA-04.pdf