A oração é um dos elementos mais importantes no
encontro catequético. O catequista deve sempre ter em mente que é preciso
ensinar os catequizandos a rezar. Uma catequese que não desperte na turma uma
atitude de oração acabará sendo uma mera troca de informações e não criará uma
espiritualidade.
Rezar é conversar com Deus. Quando uma pessoa
tem dificuldade de conversar com Ele, isso pode significar que Deus, para essa
pessoa, ainda é um conceito distante, fora da realidade. Ao contrário, se a
pessoa consegue se expressar livremente, abrindo-se no diálogo com Deus, isso
pode significar que ela interiorizou a presença Dele em sua vida. Deus é, para
essa pessoa, alguém próximo com quem se pode dialogar.
É costume dizer que a melhor maneira de avaliar a
catequese é olhar a vida de oração dos catequizandos. Uma catequese superficial
dificilmente resultaria numa vida de oração profunda.
Portanto, o catequista, além de cuidar da
transmissão dos conteúdos da fé, precisará incentivar a vida de oração,
ensinando a turma a rezar. Dizemos "ensinar", porque oração é algo
que se aprende, com formas e métodos variados. O catequista ensinará a turma a
rezar, conduzindo momentos de oração. Ele próprio precisará rezar com
profundidade. Seu jeito de conversar com Deus será o principal estímulo para a
turma. Além disso, o catequista poderá – e deverá – usar várias metodologias
para conduzir orações.
Métodos
e formas são os diversos jeitos de rezar. É importante variar os momentos de
oração para enriquecê-los e evitar a rotina. Na catequese há inúmeras formas
possíveis. Neste texto, veremos alguns desses métodos, assim como dicas de como
trabalhar com eles para tornar o momento de oração mais rico e criativo.
ORAÇÕES DECORADAS
São aquelas orações tradicionais que a gente deve
saber de cor. Todo católico deve saber rezar o Pai-Nosso, a Ave- Maria e muitas
outras orações. Essas orações são importantes porque vêm de longa tradição na
Igreja, são rezadas em comum nas celebrações, possuem um conteúdo rico e
profundo. Entretanto, não devemos nos limitar a essas formas de oração. O
grande perigo, na catequese, é só rezar Pai-Nosso, Ave-Maria e Vinde
Espírito Santo e não desenvolver outras formas mais expressivas de
conversar com Deus. Outro grande perigo é essas orações se tornarem preces
mecânicas, repetidas com a memória, não com o coração, como se fossem
palavras soltas e sem sentido. Por causa disso, três atitudes são importantes
quando o catequista lida com orações decoradas:
a)
Alternar orações decoradas e espontâneas, variando a forma de rezar;
b)
Ajudar a turma a compreender e ter sempre em mente o sentido dessas
orações;
c)
Lembrar que a linguagem dessas orações nem sempre é acessível à turma, o que
faz supor a necessidade de estudar a oração para depois rezá-la.
ORAÇÕES REPETIDAS
São
orações espontâneas ou escritas que o catequista reza, frase por frase, para
que a turma vá repetindo em conjunto. É uma forma válida, porque leva a pessoa
a dizer e interiorizar coisas importantes dentro do tema do encontro, além de
ser uma forma intermediária entre a oração decorada e a totalmente
espontânea. A oração repetida deveria ser usada mais com grupos que ainda
têm certa dificuldade de rezar de modo espontâneo. Podem ser adultos, jovens ou
crianças. Esse tipo de oração tem certo caráter pedagógico:
enquanto vai repetindo a prece formulada pelo catequista, a pessoa aprende a
formular a sua própria prece. Até em missas ou celebrações com grande número de
pessoas se costuma usar esse método. Vale lembrar, no entanto, algumas
observações a respeito:
a) A oração deve ser feita na linguagem da turma.
b) Quem dirige a oração deverá rezar pausadamente,
falando as preces com clareza;
c) Deve-se esperar que a turma repita a frase
anterior para falar nova frase; do contrário, a turma não entenderia o começo
da frase seguinte;
d) As frases devem ser curtas, senão a turma já as
terá esquecido na hora de responder;
e) as frases devem ter sentido completo, tanto
quanto possível. Se o dirigente parte de uma frase grande em vários pedaços, ao
final ela poderá ter perdido o sentido;
f) Antes de começar a rezar, é preciso concentrar a
turma para que a repetição não seja algo mecânico. Nesse sentido, o gesto ajuda
muito.
MEDITAÇÃO DIRIGIDA
Consiste
em uma oração silenciosa, orientada pelo catequista. O catequista coloca todos
em silêncio e vai dirigindo palavras que ajudarão a refletir e a meditar. O
segredo dessa forma está no talento do catequista em manter o grupo em clima de
meditação e em dizer palavras que possam interiorizar e transformar em sua
própria oração. O silêncio ajuda na concentração. As palavras do catequista
devem evitar a dispersão. De fato, uma oração totalmente silenciosa, se o grupo
não for muito maduro, poderia logo gerar mais distração do que diálogo com
Deus. Vale observar o seguinte:
a) É aconselhável, antes de meditar, combinar um
gesto de recolhimento: fechar os olhos, abaixar a cabeça, sentar-se, colocar a
mão no coração, etc.
b) Só é possível rezar assim se todos realmente
fizerem silêncio. Se houver ruído é melhor nem tentar meditar. Nesse caso, a
oração repetida funcionará muito melhor.
c) O catequista precisa conduzir a oração no
mínimos detalhes, como se estivesse "hipnotizando" o pessoal. Deve
dizer o que fazer, o que pensar, o que sentir. Isso ajudará a criar um clima
favorável.
d) Para ajudar na concentração pode-se cantar
suavemente uma música que ajude a rezar. Ou usar um fundo musical bem suave.
e) Na meditação dirigida, podemos distinguir dois
momentos: primeiro o catequista vai concentrar a turma, colocando-a em clima de
oração. É o que falamos no item anterior. Depois que todos estiverem
concentrados, o catequista vai induzi-los à oração, por meio de palavras que
possam repetir interiormente. Nesse momento, a tendência será sempre repetir as
palavras do catequista. Por isso, será sempre bom usar a primeira pessoa e não
a terceira. Exemplo: "Diga a Jesus: - Jesus, eu preciso de seu amor, eu
quero ser amado pelo Senhor." ( Primeira pessoa); "Diga a Jesus que
você precisa de seu amor, que você quer ser amado por Ele." (Terceira pessoa)
f) Esse oração precisa de uma conclusão. Para
concluir, pode-se cantar uma música, ou fazer uma oração a uma só voz, ou uma
oração repetida etc.
g) Lembramos ainda que nenhuma forma de oração deve
ser prolongada demais. Isso cansaria a turma, gerando inquietação. A arte de
conduzir orações supõe que o catequista perceba o momento certo de encerrar a
oração, antes que o grupo dê sinais de inquietação.
ORAÇÃO ESCRITA
Consiste
em pedir que se escreva a oração que se deseja fazer. É uma forma mais trabalhada.
A vantagem é que permite organizar melhor os pensamentos. É aconselhada quando
se faz necessária uma oração que, além da espontânea e pessoal, seja também
pensada e refletida. Exemplo:
a) Escrever uma avaliação de vida, dizendo para
Deus quais são as maiores dificuldades que se tem enfrentado ultimamente.
b) Escrever uma carta para Deus, contando-lhe como
vai a família.
c) Escrever um compromisso, colocando por escrito o
propósito de seguir Jesus com fidelidade.
A oração escrita pode se tornar um momento profundo
de desabafo com Deus, uma ocasião de se “soltar” com total sinceridade. O papel
aceita tudo, calado. Depois de escrever a oração, é preciso ver o que fazer com
o papel. Se forem escritas coisas pessoais e íntimas, é melhor queimar os papéis
numa vasilha apropriada, enquanto se canta alguma canção. Se o conteúdo escrito
pode ser lido, sem revelar coisas pessoais, cada um pode ler para os demais sua
oração, ou pode-se partilhar a oração em duplas, ou ainda, expor os textos num
cartaz etc. Antes, porém, de escrever, é preciso combinar o que se fará com os
textos para não acontecer que alguém coloque num papel coisas que não deseja
ver publicadas diante de todos. O catequista deverá ter essa sensibilidade.
ORAÇÃO A PARTIR DE
SÍMBOLOS
Também podem-se
usar símbolos para motivar a oração: faixas, cartazes, objetos etc. Isso
permite variar bastante, contanto que os símbolos sejam adaptados à realidade
do grupo e este tenha maturidade para compreender a mensagem dos símbolos.
Exemplos:
a) Escrever em
sulfite, ou outro material que achar pertinente, várias fraquezas humanas e colocá-las sobre o
altar ou a mesa. Pedir que cada pessoa
vá à frente, erga um cartaz e faça uma prece pedindo a Deus força para superar
aquela fraqueza. Em seguida, rasgue-a e a coloque numa vasilha. Cantar algum
refrão ou um mantra. No final, queimar
os papéis rasgados.
b) Colocar vários símbolos (pão, vinho, cruz, água,
veste branca, óleo, vela, flores, espinhos, pedra) sobre o altar ou no chão.
Estando todos em volta, convidar a louvar pelo que os símbolos representam.
c) Convidar cada um a escrever uma prece num
coração e depois ofertar esse coração a Deus, colocando-o sobre o altar;
enquanto se canta uma música apropriada.
A oração,
a partir de símbolos, acaba se tornando um verdadeiro ritual, uma autêntica
celebração. Por isso, é importante. Depende, é claro, de um tempo maior e da
arte do catequista de conduzir todos
à compreensão dos símbolos. O
segredo é usar símbolos que expressem
uma mensagem clara e sejam de fácil compreensão de todos.
SUGESTÃO DE ORAÇÃO PARA FAZER
COM ADULTOS
OBJETIVO: Descobrir o valor da oração e a
necessidade de orar
MATERIAL: Folhas de
papel e lápis para cada participante; Bíblias.
Divida a turma em
grupos. Distribua as leituras e perguntas por grupos diferentes. Dê um tempo
para cada grupo ler, conversar sobre cada parte e responder de preferência
escrevendo um texto. Depois junte todos, ouça as respostas e faça comentários.
Como e por que devemos
orar? Mateus 6, 5 -13.
Como e por que devemos
orar? Marcos 11, 22 – 25.
Como é a pessoa que costuma
orar? Romanos 12, 10 – 21.
Para
que serve a oração e a Palavra de Deus? Efésios 6, 10 – 20.
Respostas para ajudar na
reflexão:
1 - Ao orar a pessoa
assume a existência de um Deus amoroso que está atento para sua realidade e é
Onipresente. A constância desta ação, inculca na mente Sua presença, levando a
pessoa a sentir-se acompanhada. Na oração descobrimos nossa dependência do
Criador, e a necessidade de Sua orientação, proteção, conforto. A prática da
oração impulsiona a pessoa à disciplina da dependência; o que redundará em
conhecimento, obediência, e bênçãos. A oração também possui uma função
terapêutica, pois, leva a pessoa a abrir-se; a colocar para fora aquilo que
incomoda, que amedronta; e que, se guardado, poderia facilmente redundar em
distúrbios emocionais, ou mesmo depressão. Ao se colocar diante do Deus Amor;
criador e sustentador do universo, inclusive de sua própria vida, a pessoa
liberta-se da ansiedade de seu próprio controle.
Leia e medite com todos
Filipenses 4, 4 – 9.
A oração é
importantíssima porque a partir dela o Espírito do Senhor trabalha em nosso
ser, guiando e confortando-nos para uma vida melhor.
Para refletir e rezar:
Mt 6, 7-8; Mc 1-35; Jo 16-20
Lc 5, 16; 6, 12-13; 10,21; 22,40-42; 23,34
Partilhemos nossas descobertas e terminemos com a oração
que está em Mt 6, 9-13.
*O primeiro tema da semana de formação do
Catequese Kids, é sobre a arte de se conduzir orações. Ele foi retirado do
livro "Elementos de Didática na Catequese" da autora Solange
Maria do Carmo, editora Paulus e publicado em http://catequesekids.blogspot.com.br/search/label/Ora%C3%A7%C3%B5es
Anexo: A PIPOCA (Rubem Alves)
Adaptei esse texto de Rubem Alves, que pode ser
usado em uma dinâmica ou celebração usando como símbolo pipoca.
Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca
iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu. A pipoca, milho
mirrado, grãos redondos e duros,
me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões
metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma
paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente
aconteceu. Minhas ideias começaram a estourar como pipoca.
Percebi, então,a relação metafórica entre a
pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura,
de forma inesperada e imprevisível. A pipoca se revelou a mim, então, como
um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas,
as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das
pipocas dentro de uma panela.
Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca
tem sentido religioso? Pois tem. Para os cristãos, religiosos são o pão
e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de
vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...).
Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida
e alegria devem existir juntas.
A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido. Fosse
eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem
aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me
livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os
milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei
como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a ideia de debulhar
as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos
amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com
água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia
ter imaginado. Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da
panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com
eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias
que até as crianças podiam comer.
O estouro das pipocas se transformou, então, de uma
simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos
de todos, especialmente as crianças.
É muito
divertido ver o estouro das pipocas! E a transformação do milho duro em
pipoca macia é um símbolo da grande
transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que
devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que
acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes,
impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos
transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só
acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo
continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Assim acontece com a gente. As grandes
transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo
fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza
assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o
melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos
lança numa situação que nunca imaginamos.
Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder
um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de
dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas
ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o
sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que
a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais
quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura,
fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode
imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo
de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande
transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente
diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que
surge do casulo como borboleta voante.
Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca
poderá representar a morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro
do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de
outro.