1.1. CATEQUESE COMO INICIAÇÃO À FÉ E VIDA DA
COMUNIDADE
4. Esta primeira fase se estende, aproximadamente,
do século I ao século V.
No tempo dos Apóstolos, a vivência fraterna na
comunidade, celebrada principalmente na Eucaristia, representava a maneira mais
alta de traduzir na vida a mensagem de Cristo Ressuscitado (1Cor 11,17-29).
5. Era na comunidade que se vivia a doutrina dos
Apóstolos, seu ensinamento recebido do próprio Cristo que, pouco a pouco, foi
sendo formulado nos Símbolos da Fé (fórmulas
condensadas, como o Credo), nas doxologias (aclamações litúrgicas como as que
encontramos, por exemplo, em Ef 1,3-14; Rm 1,8; Rm 16,27; 1Cor 1,2-3), e nas
orações.
6. Aos poucos foi-se
formando uma Catequese prolongada e organizada,
que tinha como objetivo levar os
convertidos à iniciação na vida cristã. Criou-se
assim o catecumenato com seus vários graus,
que preparava os candidatos à vivência na
comunidade cristã, através da escuta da Palavra,
das celebrações e do testemunho. Muitas das obras notáveis em Catequese dos
Padres da Igreja surgiram no contexto do catecumenato (cf. CT 12).
7. A Catequese introduzia progressivamente na
participação da vida cristã dentro da comunidade. Animada pela fé, sustentada
pela esperança, exercida através da caridade fraterna, a própria vida da
comunidade fazia parte do conteúdo da Catequese. Esta, por sua vez, era o
instrumento a serviço de uma entrada consciente na comunidade de fé e da
perseverança nela. Catequese e comunidade caminhavam juntas.
1.2. CATEQUESE COMO PROCESSO DE IMERSÃO NA
CRISTANDADE
8. No período que vai mais ou menos do século V ao
século XVI, pode-se dizer que a Catequese já não consistia tanto numa iniciação
à comunidade de fé, como verificamos na fase anterior. É que a sociedade
inteira, em todos os seus aspectos, se considerava animada pela religião
cristã, a ponto de se estabelecer uma aliança entre o poder civil e o poder
eclesiástico. Foi o que se chamou de cristandade.
9. A Catequese se fazia, então, por um processo de imersão
nessa cristandade.
Sem esquecer a influência da família, das escolas
episcopais e monacais e da pregação, convém ressaltar que a educação da fé se
realizava pela participação numa vida social, profissional e artística marcada
pelo religioso, num ambiente cristão presente na sociedade inteira.
1.3. CATEQUESE COMO INSTRUÇÃO
10. A partir do século XVI, a catequese passou,
conforme as exigências do tempo, a realizar-se prevalentemente por um processo
que valorizava mais a aprendizagem individual, na qual já não era tão marcante
a ligação com a comunidade.
11. Vários fatores concorreram para que a Catequese
se concentrasse no aspecto da instrução. Salientamos entre outros:
a) a preocupação com a clareza e a
exatidão das formulações doutrinais, em face das divisões no
meio dos cristãos, no tempo da reforma protestante;
12. b) a descoberta da imprensa e a
difusão das escolas, que concentram a Catequese nos textos para
o ensino, isto é, nos catecismos. Após as primeiras tentativas católicas,
inclusive latino-americanas, Lutero publicou seu catecismo em 1529. Entre 1550
e 1600 apareceram os grandes catecismos inspirados no Concílio de Trento, como
o de São Pedro Canísio, em 1555, e o de São Carlos Borromeu, em 1566, e o de
São Roberto Bellarmino, em 1597. O valor sempre inspirador dos catecismos, numa
época de confusão doutrinal, foi o de apresentar de maneira clara e pedagógica
o conjunto dos principais mistérios da fé cristã (cf. CT 13);
13. c) a influência do iluminismo: segundo
este movimento cultural, a inteligência humana, devidamente instruída, é capaz
de encontrar sozinha a solução de todos os problemas da humanidade.
1.4. CATEQUESE COMO EDUCAÇÃO PERMANENTE PARA A
COMUNHÃO E PARTICIPAÇÃO NA COMUNIDADE DE FÉ
14. 1.4.1. No século XX foi-se
redescobrindo na Catequese a importância fundamental da iniciação cristã e do
lugar primordial que nela cabe à comunidade de fé.
Tal tendência foi gradativamente reforçada por
vários elementos:
15. a) os resultados dos movimentos
bíblicos, patrístico, litúrgico e querigmático que, na
evangelização, contribuíram respectivamente para a revalorização da Bíblia, da
Liturgia e do anúncio de Jesus Cristo;
16. b) as descobertas da psicologia,
da pedagogia e de outras ciências humanas, descobertas essas
aplicadas aos processos catequéticos;
17. c) mais recentemente, a renovação inspirada no Concílio Vaticano II (1962-65),
explicitada no Diretório Catequético Geral (1971) e animada pelos Sínodos sobre
a Evangelização (1974) e sobre a Catequese (1977). Fruto desses dois Sínodos
são as exortações apostólicas Evangelii Nuntiandi (EN)
de Paulo VI, sobre a Evangelização no mundo de hoje (1975) e Catechesi Tradendae (CT) de João Paulo II, sobre a
Catequese hoje (1979);
18. d) as transformações no próprio
mundo pelo progresso tecnológico-científico, explosão
demográfica, urbanização, e pela secularização, fruto do positivismo e do
tecnicismo.
Esta sociedade, marcada pela massificação,
anonimato, impacto dos meios de comunicação de massa, consumismo, libertinagem
moral, violência coletiva e desigualdades sociais chocantes, exige, de modo
novo e radical, a segurança da pessoa no abrigo de uma comunidade menor, onde
possam ser vividos os valores do relacionamento interpessoal.
19. Esta sociedade, marcada também pelos ateísmos
práticos e teórico-militantes, por diversos tipos de neopaganismo, pelas formas
fanáticas e sectárias de religiosidade de origem recente e pelo indiferentismo
religioso, precisará também de um tipo de Catequese que, além de uma sólida
fundamentação da fé, seja capaz de ajudar o cristão a converter-se e a
comprometer-se no seio de uma comunidade cristã para a transformação do mundo.
20. 1.4.2. Na América Latina, a
2ª Conferência Episcopal realizada em Medellín (1968), percebeu esta nova
necessidade e, aplicando os ensinamentos do Concílio Vaticano II à nossa
realidade continental, redirecionou a catequese para o compromisso libertador
nas situações concretas. À luz do documento final de Medellín, confirmado mais
tarde pela Evangelii Nuntiandi e pela
Conferência de Puebla (cf. P 978-986), a Catequese na América Latina vem
procurando realizar-se em estreita ligação com a realidade da vida, para a
construção de comunidades de fé.
Neste sentido vem levando os catequistas a
caminharem com os mais pobres e oprimidos e a partilharem as suas angústias,
lutas e esperanças.
21. 1.4.3. No século XX, também no Brasil, o movimento catequético foi
impulsionado pela ação do Papa São Pio X e sua encíclica sobre a catequese,
intitulada Acerbo Nimis (1905). Também nesta época surgiu o Catecismo dos
Bispos das Províncias Meridionais do Brasil, que teve inúmeras edições. Varias
gerações de cristãos foram instruídas e educadas na fé por este catecismo.
Num notável esforço de renovação nestas últimas
décadas, a Catequese no Brasil passou por diversas fases onde, sucessivamente,
os acentos e as preocupações recaíam sobre o conteúdo, método, sujeito e, mais
recentemente, sobre o objetivo da catequese.
Já desde os anos 40, diversos pioneiros se
dedicaram ao trabalho de sistematização e adaptação da Catequese às novas
exigências.
22. É o caso, entre outros,
de Mons. Álvaro Negromonte, que criou e difundiu no Brasil o chamado Método
integral de Catequese, o qual se propunha como objetivo formar o cristão
íntegro, firme na fé, forte no amor e pleno de esperança.
23. É o caso também dos que
trabalharam, nas décadas de 50 e 60, nos secretariados nacionais e regionais de
catequese e nos Institutos de Pastoral Catequética, que daí surgiram depois do
Concílio Vaticano II nos diversos níveis. Os Institutos prestaram relevante
serviço no que tange à formação dos quadros dirigentes da catequese.
24. Houve, em todo este
último período, um grande esforço de integrar a catequese no conjunto da
renovação pastoral, a fim de pôr em prática os princípios e normas do Concílio,
repetidamente inculcados pelos Papas e pelos Sínodos, adaptados à situação
latino-americana em Medellín e Puebla e à nossa situação brasileira pelas
orientações e diretrizes gerais da CNBB.
25. 1.4.4. Cabe ressaltar, como características positivas que vem tomando a nossa
catequese:
— uma inserção maior no conjunto de toda a pastoral
esta vem procurando torna-se cada vez mais uma pastoral orgânica;
— a apresentação de uma nova imagem da pessoa de
Jesus Cristo e sua prática, da Igreja, e do homem;
— a consideração da pessoa humana como um todo, com
seus direitos e deveres, suas dimensões individual, comunitária e social;
— a luta pela libertação integral do homem,
reconhecido como sujeito de sua própria história;
— o relevo dado às comunidades eclesiais de base e
à opção preferencial pelos pobres;
— a preocupação por um ensino sistemático dos
conteúdos da fé, através de um roteiro nacional.
26. Ao lado dessas
aquisições, porém, cabe não perder de vista as deficiências que
a catequese no Brasil continua mostrando:
— ainda não atinge permanentemente a todos os
cristãos, especialmente os jovens e adultos, os universitários, o operariado
nos grandes centros e as elites intelectuais;
— às vezes, fica em dualismos e falsas oposições,
como entre a catequese sacramental e catequese vivencial, entre catequese
doutrinal e catequese situacional;
— publicações catequéticas fracas e às vezes
questionáveis do ponto de vista doutrinal e metodológico;
— em certos lugares, a catequese ainda continua a
merecer maior atenção de nossa parte, de sacerdotes, de seminaristas, de
religiosos, e também não encontra apoio suficiente nas famílias;
— um ensino religioso muitas vezes fragmentário e
pouco eficaz em diversos Estados.
27. É compreensível que cada um, num processo complexo
como é o da catequese, acabe por favorecer um ou mais elementos integrantes do
processo, em detrimento de outro. Daí o surgimento de diversos tipos de catequese e uma rica variedade
de textos e manuais que sublinham, às vezes, a instrução nas verdades; outras,
a experiência vital individual ou comunitária, os métodos de uma sã pedagogia e
a devida atenção à pessoa do educando.
Em alguns sobressai o aspecto da inserção na
comunidade de fé; noutros, a adesão à caminhada do povo na busca de sua libertação
e o impacto to transformador nas estruturas sociais.
28. Cada uma das múltiplas tendências existentes em
nossas Igrejas locais tem seus aspectos positivos e suas limitações. O processo
que procura integrar os diversos elementos válidos das diferentes tendências
parece-nos como o mais correspondente aos objetivos finais da Catequese e como
o mais fiel às diretrizes da Igreja desde o Vaticano II.
29. Tal processo procurará unir: fé e vida (cf. Cân
773); dimensão pessoal e comunitária; instrução doutrinária e educação
integral; conversão a Deus e atuação transformadora da realidade; celebração
dos mistérios e caminhada com o povo.
Procuramos,
nestas Orientações, perceber os fundamentos e as consequências práticas de uma
Catequese que procura renovar-se diante das novas situações.
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